O QUE PERDEMOS COM O USO DAS TELAS
2 horas e 25 minutos por dia, ou 2.617 vezes. Essa é a quantidade de interações que temos em média com nossos smartphones, a tela mais íntima que temos. Isso sem levar em conta o computador, a TV, o Tablet...

Você está lendo este artigo de um smartphone. Sua atenção se divide entre estas linhas e as notificações. Está impaciente pelos dados e confrontações científicas, e isto é uma sequela de usar as telas no dia a dia. Imediatismo.

O smartphone ao aproximar pessoas do mundo todo pela conectividade com a rede mundial e agilizar o seu dia-a-dia, cobra um alto preço: reduz a capacidade cognitiva. Você deve se pegar relendo palavras em um livro ou artigo eletrônico, ou mesmo parágrafos inteiros. Seu raciocínio é prejudicado à medida que se expõe a esta enorme facilitadora de vidas: as telas.

Vou interromper minha dissertação para os que estão lendo este artigo somente procurando embasamento para contestar ou pesquisar. A você, viciado inveterado das telas, imediatista irremediável, seguem algumas fontes:

AAPP 2001/13
CPS, 2010
Kaiser Foundation 2010
Active Healthy Kid Canada, 2012
Christakis, 2011
Small, 2008
Pagini, 2010
Tremblay, 2005 e 2011
Feng, 2011
Center for Disease Control and Prevention, 2010
Bristol University, 2010
Mentzoni, 2011
Shin, 2011
Liberatore, 2011
Waddell, 2007
Rowan, 2010
Gentile, 2009
WHO, 2011
Help EDI Maps, 2013
Huffington Post, 2014
Huesmann, 2007
Globe and Mail, 2011

Bem, se você leu as referências uma a uma, parabéns, ainda existe salvação... se simplesmente pulou da 3ª ou 4ª linha para o fim, então será preciso um enorme esforço. Vamos em frente:

As linhas que seguem entre aspas foram publicadas no Huffinton Post em 06 de março de 2014, e se referem a crianças:

“Aqui em casa vai continuar valendo o resultado da pesquisa: Com a TV eles ficam mais excitados, mais desobedientes, preguiçosos, sem a menor vontade de fazer outra coisa. Sem a TV eles correm, brincam, brigam, conversam, comem na mesa, pintam e criam suas próprias histórias. Independente do tamanho da necessidade do empurrãozinho que você precisa para tirar esses intrusos da sua família, as informações são de utilidade pública”.

Publicado no site Antes que eles cresçam, em 2014, seguem 10 razões pelas quais dispositivos portáteis devem ser proibidos para crianças com idade inferior a 12 anos:

1. Crescimento rápido do cérebro

Entre 0 e 2 anos, o cérebro da criança triplica de tamanho e continua em estado de rápido desenvolvimento até os 21 anos de idade (Fonte: Christakis de 2011). O desenvolvimento inicial do cérebro é determinado por estímulos ambientais ou pela falta dele. O estímulo a um desenvolvimento cerebral causado por exposição excessiva a tecnologias (celulares, internet, iPads, TV) foi mostrado afetar negativamente o funcionamento e causar déficit de atenção, atrasos cognitivos, aprendizagem deficiente, aumento da impulsividade e diminuição da capacidade de autorregular, exemplo: birras (Fonte: Small 2008, Pagini 2010).

2. Atraso no desenvolvimento

O uso da tecnologia restringe o movimento, o que pode resultar em atraso de desenvolvimento. Uma em cada três crianças agora entram na escola com atraso de desenvolvimento, impactando negativamente a alfabetização e o desempenho acadêmico (Help EDI Maps 2013). O movimento aumenta a atenção e a capacidade de aprendizagem (Fonte: Ratey 2008). Com isso, o uso de tecnologia por crianças com idade inferior a 12 anos é prejudicial ao desenvolvimento da criança e da aprendizagem (Fonte: Rowan 2010).

3. Epidemia de obesidade

O uso de TV e vídeo game está correlacionado com o aumento da obesidade (Fonte: Tremblay, 2005). As crianças que possuem dispositivos eletrônicos em seus quartos têm 30% de aumento na incidência de obesidade (Fonte: Feng 2011). Um em cada quatro canadenses e uma em cada três crianças americanas são obesas (Fonte: Tremblay 2011). 30% das crianças com obesidade irão desenvolver diabetes e os indivíduos obesos têm maior risco de acidente vascular cerebral e ataque cardíaco precoce, encurtando gravemente a expectativa de vida (Fonte: Center for Disease Control and Prevention 2010). Em grande parte devido à obesidade, crianças do século XXI podem ser a primeira geração onde muitos não vão viver mais que seus pais (Fonte: Professor Andrew Prentice, BBC News, 2002).

4. Privação do sono

60% dos pais não supervisionam o uso de tecnologia de seus filhos e 75% das crianças estão autorizadas a ter tecnologia em seus quartos (Kaiser Fundation 2010). 75% das crianças com idade entre 9 e 10 anos são privados de sono e como consequência, suas notas na escola são negativamente impactadas (Boston College 2012).

5. Doença Mental

O uso excessivo de tecnologia está implicado como a principal causa das taxas crescentes de depressão infantil, ansiedade, transtorno de apego, déficit de atenção, autismo, transtorno bipolar, psicose e comportamento infantil problemático (Bristol University 2010, Mentzoni 2011, Shin 2011, Liberatore 2011, Robinson 2008). Uma em cada seis crianças canadenses têm uma doença mental diagnosticada, muitas das quais estão em uso de medicação psicotrópica perigosa (Waddell 2007).

6. Agressão

Conteúdo de mídia violento pode causar agressividade infantil (Anderson, 2007). As crianças estão cada vez mais expostas à crescente incidência de violência física e sexual na mídia de hoje. “Grand Theft Auto V” retrata sexo explícito, assassinato, estupro, tortura e mutilação, como fazem muitos filmes e programas de TV. Os EUA classificou a violência na mídia como um risco à saúde pública devido ao impacto causal sobre a agressão infantil (Huesmann 2007). A imprensa registra aumento do uso de quartos de isolamento com crianças que apresentam agressividade descontrolada.

7. Demência digital

Conteúdo de mídia de alta velocidade pode contribuir para o déficit de atenção, bem como a diminuição da concentração e da memória, devido ao cérebro eliminar trilhas neuronais no córtex frontal (Christakis 2004 Pequeno 2008). Crianças que não conseguem prestar atenção não podem aprender.

8. Vícios

Como os pais ficam cada vez mais presos à tecnologia, eles estão se desapegando de seus filhos. Na ausência de apego dos pais, as crianças separadas podem se conectar a dispositivos, o que pode resultar em dependência (Rowan 2010). Uma em cada 11 crianças com idades entre 8-18 anos são viciadas em tecnologia (Gentile 2009).

9. Emissão de radiação

Em maio de 2011, a Organização Mundial de Saúde classificou os telefones celulares (e outros dispositivos sem fio) como um risco categoria 2B (possível cancerígeno), devido à emissão de radiação (WHO 2011). James McNamee com a Health Canada, em outubro de 2011, emitiu um aviso de advertência dizendo: “As crianças são mais sensíveis do que os adultos a uma variedade de agentes – como seus cérebros e sistemas imunológicos ainda estão em desenvolvimento – então você não pode dizer que o risco seria igual para um jovem adulto quanto é para uma criança”. (Globe and Mail de 2011). Em dezembro de 2013 o Dr. Anthony Miller, da Universidade da Escola de Saúde Pública de Toronto recomendou que, com base em novas pesquisas, a exposição à radiofrequência deve ser reclassificada como 2A (provável cancerígeno) e não um 2B (possível cancerígeno). A Academia Americana de Pediatria pediu revisão das emissões de radiação eletromagnéticas dos dispositivos de tecnologia citando três razões quanto ao impacto sobre as crianças (AAP 2013).

10. Insustentável

As maneiras pelas quais as crianças são criadas e educadas com a tecnologia já não são sustentáveis (Rowan 2010). As crianças são o nosso futuro, mas não há futuro para as crianças com overdose de tecnologia. Cuidar disso é urgente, necessário e precisamos fazer em conjunto, a fim de reduzir o uso de tecnologia por crianças. Por favor, assista e compartilhe os vídeos sobre o uso excessivo de tecnologia por crianças em http://www.zonein.ca

Muito bem, vamos avançar nossa análise sobre a exposição às telas. Adrian Ward, pesquisador da Universidade do Texas, foi autor de um estudo o qual aplica uma avaliação composta por testes de memória, matemática e raciocínio em jovens com smartphones desligados, porém sobre a mesa, nos bolsos ou em outra sala. O resultado foi um salto de 10% entre os grupos, no aproveitamento do teste, concluindo que a simples proximidade ao aparelho causa dificuldade cognitiva.

Mas eu vou mais além. Um estudo recente da Universidade Estadual de São Francisco apontou que, gradualmente, o comportamento do vício em telas (tendo o smartphone como referência) forma conexões neurológicas semelhantes às de viciados e opiáceos, como pessoas que consomem Oxycotin para aliviar dores.

A exposição às telas tem efeito semelhante ao consumo excessivo de açúcar, que por sua vez é comparado ao consumo da cocaína. Leva a uma redução na produção de dopamina pelo corpo, fazendo com que o indivíduo passe a “consumir” cada vez mais para alcançar os níveis anteriores de dopamina e evitar estados de depressão.

A dopamina é uma substância neurotransmissora que dentre suas atuações está a sensação de prazer. Basicamente, quando o cérebro a libera, a pessoa se sente bem.

Diretamente proporcional à exposição as telas temos quadros de depressão, agressividade, perca cognitiva, dependência...

Entre situações que contribuem para o motivo do desaparecimento de pessoas, estão as telas: dentre os idosos, pela inversão de valores ao se dar mais atenção à tela do que a pessoa; dentre crianças, por serem levadas a “desafios” a convites de novos “amigos”; dentre adultos, pelos quadros agudos de depressão.

Ao nos expormos indiscriminadamente às telas, estamos vivendo em função delas e não o oposto. Ao dormirmos com o smartphone ao alcance das mãos, ao abandonarmos as bibliotecas pelos livros em Pdf ou Epub, ao trocarmos uma boa aula, palestra ou seminário pelo YouTube ou PowerPoint, estamos nos rendendo ao nosso vício e atrofiando nossa capacidade cognitiva.

Arrisco afirmar que o tempo “economizado” nas telas é perdido na vida. Um jantar com a TV ligada ou o smartphone sobre a mesa ou no bolso, é tempo perdido.

Segundo a Sociedade Canadense de Pediatria, o tempo de exposição máxima recomendável pensando no menor dano, de acordo com a faixa etária, é o que segue:

0 a 2 anos Nada
3 a 5 anos 1 hora ao dia
6 a 12 anos 2 horas ao dia
13 a 18 anos 2 horas ao dia

Precisamos repensar até que ponto o estímulo ao uso indiscriminado da tecnologia como fornecimento de notebooks para crianças em escolas é algo bom ou parte de um processo criado justamente para dificultar o avanço natural da pessoa como ser pensante.

Então a resposta ao que perdemos com o uso das telas: a vida. E aqui novamente vou mais além. Não se trata apenas do uso, mas sim da exposição às telas. A criança brincando no chão da sala com a TV ligada está exposta a isso. E nem entro no mérito do conteúdo, indiscutivelmente nocivo, mas puramente à tecnologia das telas.

Ao termos nossa capacidade cognitiva prejudicada, abrimos mão de nossa prerrogativa de decidir lucidamente em nossas vidas, portanto a principal perda com a exposição às telas são nossas próprias vidas.
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