Um Passarinho que Não Voava
Um Passarinho que Não Voava
A recordação mais antiga que tenho de mim é vendo-me correr em meio a natureza, já sabia que Deus era Deus! Era, é, e sempre o será; Criador!
Num interior de um país especifico, numa cidadezinha tranquila, eu corria por ser livre. Eu era criança e brincava com outras crianças.
Tudo era paz e tudo estava repleto da presença de Deus.
Ouvia as pessoas falarem de Deus, era certo de que os adultos tinham óticas muito diferente de Deus, mas eu realmente conhecia Deus. O conhecia ali, no meu dia-a-dia de criança, até deparar-me com algo que não conhecia, ou não tinha a ciência de que acontecera antes. Deparei-me com a morte. Algo estranho e muito, muito confuso.
Foi assim: - Estava brincando com os meus amigos; corríamos como loucos, riamos muito, ofegávamos de tão livres que éramos, meninos e meninas, mesmo em suas explicitas diferenças, corríamos quase por igual.
De repente, encontrei um passarinho, pequeno, no pé de uma árvore, ele estava ali caído, era realmente muito pequeno, mas era um pássaro.
Meus amigos mais velhos (alguns pares de meses mais do que eu) falaram que provavelmente o passarinho tinha caído do ninho, lá de cima da árvore.
Neste momento, eu em minha plena inocência, peguei o passarinho, coloquei-o em minha mão e pensei, ele deve voltar para o ninho; ele está respirando ofegante, parece meio cansado, mas ele tinha que voltar para o ninho.
Escutava algumas meninas falarem a mim... - Tu não podes ficar por muito tempo com o passarinho na mão, para não dar o teu cheiro a ele, para que a mãe do passarinho não o tratasse diferente, que não o reconhecera....
Algo que achei absurdo, pois, em mim, estava a certeza que deveria fazê-lo voar de volta ao ninho.
Todas as crianças se foram e eu estava pensando como fazer o passarinho voar...
Estava com pressa; para não deixar o tal do meu cheiro naquele passarinho, não queria causar-lhe problemas com a sua mãe... Então, de ímpeto, lancei o passarinho para o ar, para que ele voasse. Arremessei-o o mais forte que pude e ele foi alto, muito alto e de pronto, despencou de vez e bateu com tudo no chão. Puff.... Estatelou-se na terra dura.
Peguei-o novamente em minha mão, mas ele já não respondia e do nada me apareceu uma menina um pouco maior, uma de minhas amigas e disse-me por cima do meu ombro, olhando o passarinho em minha mão... Ele está morto!
.... Percebi que não havia vida nele e não sabia para onde a vida dele tinha ido, como ela o tinha deixado e um terrível momento de consciência aconteceu.... Uma outra voz me disse: - Você o matou.
Eu não sabia o que era a morte.
Eu argumentei que eu queria que ele voasse, que voltasse ao ninho, que continuasse sendo o que ele era, um pássaro... pássaros voam! ...
O deixei ao pé da árvore, na esperança que a mãe dele trouxera a tal vida dele de volta....
Fui meio triste, chorando escondido... Homem sempre chora, mas, chora escondido. Comecei a correr. Percebia que tudo que tinha vida poderia morrer e era um desastre tudo aquilo....
Minha inocência havia sido ferida! ...
Ato seguinte; falei com alguns adultos, mas ninguém me dava credito, não era importante, isso não tinha nenhum significado no dia-a-dia desses adultos. Percebi que muitos que falavam de Deus para mim, não o conheciam de fato e de atos.
Naquele momento decidi falar com Deus...

Voltei no dia seguinte no pé daquela árvore, com o intuito de que Deus fizesse aquele passarinho voar.
Lá estava o passarinho, morto, não sabia como; mas estava lá, tinha corpo, mas, não se mexia. E estava lá, portanto, daria para Deus fazer o que podia fazer... era somente Deus colocar a tal vida de volta naquele passarinho e “Tarammm”, o passarinho existiria como pássaro de novo. Simples assim!
Assim o fiz, pegue-o na palma de minha mão, falei com Deus para consertar aquela minha falta de conhecimento, não sabia que o passarinho não sabia voar e ansiei que Deus desse a vida a ele novamente.
Tranquilizei-me e reuni todas as minhas forças e foquei no meu objetivo. Com toda a certeza de êxito em meu ser, lancei novamente aquele passarinho ao céu e foi mais alto do que da última vez e este caiu muito mais rápido do que da primeira vez e ele se quebrou...
Realmente estava morto, pareceu-me que Deus não pode consertá-lo... Chorei muito, quase alaguei o corpinho daquele passarinho... então, sem solução de fato, institivamente, fiz um buraco na terra e enterrei o corpinho sem vida. Não estava escondendo, estava dando um lugar de paz para aquele corpinho sem vida... Algo tinha escutado recentemente dos adultos que o corpo fica e, a alma e o espírito se iam para Deus.
Ficara confuso, já que Deus era o criador de tudo, do tal espírito e da tal alma, porque não levava para Ele o corpo também... Mistério...
Enfim, sem pensar mais no assunto fui até o riacho para lavar minhas mãos; do sepultado, de minha alma confusa e de minhas dores. Não sabia como lavar o tal de espírito meu... Deixei para lá! ...
Corri! Corri gozando a vida e de tudo que era vivo naquele lugar.... Eu era uma criança que vivia a minha inocência, somente isso.
De vez em quando, eu ia ver se o passarinho estava vivo.
O tempo passou e um dia, depois de três dias de chuva forte e persistente, eu fui até o local da cova do passarinho, e vi que algo estava surgindo lá, parecia algo verde, e com o tempo, dias depois, quando voltei, vi que era um broto de algo, de uma flor.
Que legal! O passarinho por não saber voar, Deus tinha o transformado em um a flor, assim ele não sairia e não precisaria voar...
Legal Deus!
Muito engenhoso era Deus... e dei por resolvido aquele tremendo mistério.
Meses se passaram e já não identificava o local exato daquele broto, havia muitas flores e outras plantas, disseram-me que foi a chuva de três dia que deu vida...
Muito engraçado foi Deus, ele se disfarçou de chuva para fazer suas coisas... Legal!
Minha inocência foi restaurada, com cicatriz, por certo!
(livro: As Histórias de um Menino - Existências em minha vida - Lúcio Alex. Belmonte)
@BelmontEscritor
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